Segundo a informação constante nos Inquéritos Industriais, o ofício de tanoeiro tinha reduzida representatividade neste território; no entanto, consequência de processos de migração de territórios como a Maia, trouxeram estes artífices até ao município.
A tanoaria é uma arte que se transmite de forma empírica de geração para geração. Os aprendizes iniciavam o seu processo de formação nas oficinas dos tanoeiros, seus pais ou avós, ainda muito jovens, tal como acontece na maioria dos ofícios, adquiriam prática com as horas de trabalho até se tornarem oficiais ou mesmo mestres.
Durante o ano civil, a época forte do trabalho do tanoeiro decorria de julho a setembro, considerando que a produção vinícola se inicia em setembro e os agricultores, principais clientes do tanoeiro, necessitam das barricas para depositar o vinho. O resto do ano era dedicado, sobretudo, a pequenos reparos e produção de peças de menores dimensões.
Os utensílios em madeira produzidos pelo tanoeiro utilizados em usos domésticos, na produção agrícola e criação de gado, foram substituídos, ao longo do século XX, por utensílios de plásticos, mais leves, de produção industrial em série, logo mais económicos. Apenas as barricas, utilizadas para o vinho, continuaram a ser indispensáveis para boa qualidade do produto final e por tal não foram substituídas pelos utensílios de plástico ou metal. O tanoeiro das pequenas oficinas que tinha a sua clientela nos pequenos agricultores vê-se assim com o seu mercado reduzido. O escoamento dos produtos de tanoaria nas terras de Paços de Ferreira, durante alguns anos esteve dependente das produções caseiras de vinho e das necessidades advindas da produção agrícola e criação de gado, com a diminuição da incidência destas atividades, reduz a necessidade do trabalho do tanoeiro passando este a dedicar-se a fazer pequenos reparos e artesanato.
Na atualidade os que se dedicam a este ofício são muito poucos, fazem-no como forma de artesanato, participando em feiras da especialidade comercializado, normalmente, peças de porte mais pequeno do que as barricas de outros tempos.
Os tanoeiros desta região produziam várias tipologias de peças: barris, azeitoneiras, Baldes para rações de animais, os chamados “canecos da água”, cubas, meias pipas, pipas e toneis para vinho, relógios, vasos para plantas e selhas.
O processo de fabrico, regra geral, passa pelas seguintes fases:
1. Compra e escolha da madeira: as principais madeiras utilizadas são Carvalho, Eucalipto, Castanho. Para garantir a qualidade do produto, estas madeiras são sujeitas a processo de secagem natural mínimo de 2 anos.
2. Desbaste da madeira – corte da madeira em aduelas, posteriormente é colocada a amolecer em água durante dois ou três dias para não partir na fase da dobragem.
3. Dobragem da Madeira – unem-se as aduelas fazendo a armação com recurso a arcos metálicos provisórios, com o apoio da prensa e de uma fogueira, no interior da armação, procede-se à curvatura da aduela. A intensidade do fogo tem de ser controlada para evitar queimar a madeira, assim como a pressão da prensa para evitar que as aduelas rachem, nos casos em que as aduelas se danifiquem procede-se à sua substituição.
4. Colocação dos Arcos – substituem-se os arcos provisórios utilizados no procedimento anterior, para facilitar este processo a peça é lixada removendo-se os desníveis que podem dificultar a entrada dos arcos.
5- Colocação do tampo – os tampos são preparados com o auxílio do compasso, as suas extremidades são desgastadas de forma a encaixar na reentrância produzida previamente nas extremidades da aduela, o chamado “rego”.
6. Corte dos buracos – os buracos serão as aberturas (no caso das peças que sejam totalmente fechadas) através das quais o conteúdo será colocado e extraído do interior.
7. Untar a peça – para obter a impermeabilização da peça é utilizada a parafina derretida, 1kg de parafina para cada 250 litros de capacidade das peças.
A industrialização do processo de fabrico de barricas veio tornar a “arte” da tanoaria obsoleta, contribuído para o seu fim. A falta de mercado para escoar os produtos é a principal limitação que se impõe. Os tanoeiros de outros tempos iam de porta a porta procurar cliente; hoje, as tanoarias que subsistem a nível nacional são aquelas que trabalham, de forma industrial ou semi-industrial, para grandes empresas produtoras de vinho ou seus derivados, maioritariamente para exportação.